14/10/2010

Dia do Professor: "Entre o feijão e o sonho"

Há um ditado bastante maldoso sobre o ofício de professor: “Quem sabe faz, quem não sabe ensina”. De falácias como essas vão se construindo ditos populares. O fato é que eles acabam por simultaneamente espelhar e traduzir preconceitos que ainda giram em torno da profissão de professor. Preconceitos que podem ser positivos também. Há quem admire tanto a figura do professor que o coloque em um pedestal e se julgue inferior a ele e até incapaz de alcançá-lo. Para alguns estudantes, tornar-se amigo do professor pode ser símbolo de prestígio. Daí também as célebres adulações, como presentear o mestre com uma maçã vermelha lustrada sobre a mesa dele, gesto clássico nas ficções infanto-juvenis.

No Brasil, são comuns, sobretudo em faculdades particulares, estudantes de certas áreas menosprezarem o professor por acharem que ele, se fosse bem-sucedido, deveria estar no mercado ganhando dinheiro e não ali, dando aulas e corrigindo provas. Obviamente, não lhes ocorre que o ensino também integra o mercado de trabalho. Lecionar é ofício tão ou mais relevante que projetar edifícios, administrar empresas, gerir pessoas, vender geladeiras. Pode haver profissionais mais felizes – e até mais bem pagos – em salas de aula do que em escritórios, hospitais, fábricas, consultórios. Muitas vezes, o magistério é uma opção.

A despeito dos preconceitos, positivos ou negativos, fato é que, sem professor, não há outro profissional. Por mais autodidata que seja uma pessoa, ela não aprende realmente sozinha. Em algum momento, precisará tirar dúvidas ou discutir temas ou simplesmente enxergar além da própria perspectiva. Entre seus pares, nem sempre encontrará a resposta segura ou a pergunta desafiadora. Idealmente, é na figura do professor que repousa a confiança oriunda da experiência de aprender e de ensinar. Com o professor, aprende-se, inclusive, a aprender. Afinal, a ingestão indiscriminada de informações não garante o verdadeiro conhecimento.

Todavia, é igualmente fato que, na realidade cotidiana, há também professores despreparados, que podem confundir e até mesmo traumatizar um estudante. Longe do ideal, eles lecionam o que não sabem. Ou conhecem pouco a matéria que ministram. Geralmente, ocupam uma lacuna, a dos que desistiram da carreira por não verem nela suficiente motivação. Salários baixos, perspectivas limitadas, insegurança, excesso de trabalho, são diversas as explicações. Por mais amor que um professor tenha à pedagogia, há casos em que o feijão pesa mais que o sonho. A solução está na renúncia ao magistério e na busca de carreiras mais promissoras.

Nos níveis fundamental e médio, parece haver mais desistência, por parte do professor, que no nível superior, onde salários, perspectivas, segurança e estabilidade parecem motivá-los mais. Ainda ali, porém, vêem-se greves freqüentes. Seriam os professores mais propensos à reivindicação que outras categorias? Por quê? O mais provável é que, de fato, sintam-se menos valorizados que outros profissionais de formação equivalente ou inferior, porém com remuneração extremamente elevada. O mercado dá as cartas. Valoriza mais quem faz do que quem ensina. O professor produz o quê? Novos profissionais parecem não ser o bastante. Pesquisas? Tampouco. Discussões que possam gerar novas idéias? Igualmente insuficiente para a pressa do mercado. Na prática, trata-se de mais uma entre as muitas injustiças que se faz ao professor.

Portanto, quando se comemora o Dia do Professor, alguns deles aproveitam a oportunidade para reivindicar. Outros se limitam a se comover diante das demonstrações de afeto de alunos que, ainda distantes das esferas do poder, mostram-se realmente gratos pelo esforço do mestre. Uma e outra atitude têm seu valor, sua importância. Independentemente do ponto de vista, porém, parece inegável que a carreira de professor está entre as mais nobres de que se tem notícia. Nobres e indispensáveis. Esteja ou não no topo da pirâmide social, mova-se pelo imperativo da sobrevivência – o feijão nosso de cada dia – ou pelo sonho de ver um mundo mais lúcido e, portanto, melhor, o professor deve e merece ter elevada auto-estima.

Dia 15 de outubro é o Dia do Professor

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