31/01/2011

Educação: a hora e a vez das crianças, Isaac Roitman

via Jorge Werthein

» ISAAC ROITMAN Professor aposentado da Universidade de Brasília, coordenador do Grupo de Trabalho de Educação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e membro titular da Academia Brasileira de Ciências.

Durante a campanha, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, afirmou: "A primeira infância será prioridade absoluta do meu governo". Eleito, tomou uma decisão pioneira no país, criando a Secretaria da Criança, nomeando como seu titular Dioclécio Campos Junior, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria. O atual presidente dessa entidade, Eduardo da Silva Vaz, enviou carta ao governador apoiando a iniciativa dizendo: "2011 já chega trazendo uma ótima notícia para as crianças da capital, que certamente repercutirá em todo o país. Receba os entusiamados parabéns dos pediatras do Brasil. Conte conosco e com os nossos projetos na jornada que ora se inicia".

Essa será uma oportunidade para que o Distrito Federal possa ser o paradigma do Programa Nacional de Educação Infantil (Pronei), que é destinado à expansão rápida e ao funcionamento de creches e pré-escolas. O programa pretende garantir desde a nutrição saudável como a prática de atividades educativas apropriadas. Essa será a base da democracia no país - a oportunidade de uma educação de qualidade para todas as crianças brasileiras.

Os trabalhos conduzidos pelo professor James Heckman, Prêmio Nobel de Economia, e pelo professor Flávio Cunha, da Fundação Getulio Vargas, permitem afirmar que não há investimento mais seguro, nem de retorno econômico mais garantido para a sociedade, do que aquele realizado em saúde e educação da primeira infância. Em dezembro de 2009 Heckman, participou do seminário internacional Educação na Primeira Infância, promovido pela Academia Brasileira de Ciências e pela Fundação Getulio Vargas. Segundo Heckman, cada dólar investido na educação da primeira infância dará retorno de nove doláres para a sociedade. Sobre o sistema educacional brasileiro ele assim se manifestou: "Colocar mais crianças na escola, como tem feito o Brasil, é bom. Melhorar a qualidade do ensino é ainda melhor. Mas essas duas iniciativas, por mais bem executadas que sejam, não chegarão a fazer muita diferença se não for tomado um cuidado extra: investir também nas crianças de até 3 anos de idade, a chamada primeira infância. Um programa de primeira infância de qualidade para a população carente é uma condição necessária para avançarmos em direção a uma sociedade mais educada, igualitária e, sobretudo, menos violenta".

O professor Aloísio Araújo, da Fundação Getulio Vargas, coordenador do seminário, defende a prioridade da educação para crianças de até 3 anos, baseado nos estudos de neurociência que mostram que o cérebro se forma muito cedo. Segundo ele, se a criança não recebe certos estímulos nessa fase em que se estabelecem as conexões neurais, ela dificilmente vai recuperar isso depois. Atividades apropriadas podem ser conduzidas no ambiente familiar, transformando os pais no primeiro e no professor favorito. Esses deverão receber orientação adequada independentemente da classe social.

Na educação das crianças menores de 6 anos em creches e pré-escolas, as relações culturais, sociais e familiares devem ser valorizadas, grantindo os direitos das crianças ao bem-estar, à expressão, ao movimento, à segurança e à brincadeira. A orientação pedagógica para essas crianças devem ter origem nelas mesmas, conhecendo o que produzem e ouvindo-as.

A nova Secretaria da Criança no Distrito Federal poderá desempenhar papel importante no estabelecimento de políticas públicas para a educação da primeira infância. Os resultados positivos que, certamente, serão obtidos, após criteriosa avaliação poderão ser expandidos para todo o Brasil. As futuras gerações de brasileiros serão os beneficiados dos acertos que temos a oportunidade de fazer agora pelas crianças do Distrito Federal. Boa sorte e longa vida para a recém-criada Secretaria da Criança.

Fonte: Correio Brasiliense

21/01/2011

Enem: vice-presidente da Sangari amplia o debate na Folha de S.Paulo

Jorge Werthein afirma que não se pode deixar que as falhas ofusquem o grande avanço que o exame representa

O vice-presidente da Sangari, Jorge Werthein, foi destacado na edição da Folha de S.Paulo dessa sexta-feria (21) ao defender o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como um importante avanço da educação brasileira. Diante das críticas geradas a partir dos problemas enfrentados pelos estudantes, Werthein lembrou que o Enem traz a perspectiva do fim do vestibular e da consequente mudança nos currículos dos níveis fundamental e médio, para algo mais compatível com o século 21.

Jornal de maior circulação no Brasil, a Folha de S.Paulo publicou artigo de Werthein na capa do caderno Cotidiano. Em seu texto, Werthein explica que os percalços do exame não podem colocar em xeque o seu valor, de ser um sistema de seleção para o ensino superior mais lógico e humano do que os atuais vestibulares.

Werthein, que é doutor em Educação pela Universidade Stanford (EUA) e ex-representante da Unesco no Brasil, defende que é preciso reconhecer o Enem como um grande avanço e que seria um equívoco atrapalhar sua trajetória por conta de erros de natureza operacional.

O especialista afirmou ao jornal, porém, que os problemas nas últimas duas edições do exame não podem passar em branco, assim como é preciso encontrar uma forma de preservar os interesses dos estudantes. Com suas ponderações sobre o Enem, publicadas também pelo maior jornal do Distrito Federal, o Correio Braziliense, Werthein tem contribuído para o debate em torno do aperfeiçoamento do sistema.

O Enem foi criado em 1998 para servir como um exame de avaliação do desempenho dos alunos do Ensino Médio e, por consequência, da qualidade dos estabelecimentos de ensino nos quais estavam matriculados. Nos dez anos seguintes o número de inscritos cresceu de forma robusta, mas foi a partir de 2009 que o exame ganhou visibilidade e importância.

Naquele ano, o Ministério da Educação (MEC) decidiu que o Enem serviria como critério de seleção para as universidades públicas federais e para quaisquer outras faculdades que desejassem usar o mesmo método. Com mais de 4,5 milhões de alunos inscritos, ou 30 vezes mais do que na primeira edição do exame, o sistema começou a apresentar falhas, tanto na sua organização quanto no conteúdo de provas.

Leia a íntegra do artigo

19/01/2011

Os 100 mais da educação

Portal elege as principais ferramentas da internet direcionadas ao professor. Twitter lidera a lista que conta, ainda, com os famosos Facebook e YouTube

Não é de hoje que o Alô, Professor sai em defesa das ferramentas de ensino na internet e de como elas podem ajudar o professor a lapidar suas aulas.

Não à toa, um dos portais mais acessados sobre educação no mundo é o Centre for Learning & Performance Technologies (Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento Tecnológico, em português), página britânica especializada, justamente, em novas ferramentas de ensino disponíveis na internet.

Todo fim de ano, desde 2007, o centro aplica um amplo questionário a professores de todo o mundo com a pergunta: qual foi a ferramenta virtual mais importante do ano no campo do ensino?

No final de 2010, a página divulgou as 100 ferramentas mais citadas pelos mais de 500 professores que responderam ao questionário. E mais: publicou textos detalhados com declarações dos educadores sobre as ferramentas. Um senhor trabalho.

A seguir, a lista das 10 ferramentas/páginas mais citadas pelos professores.

1ª Twitter
Uma das páginas que mais cresceu nos últimos anos, o Twitter se consolidou como uma das ferramentas mais usadas pelos brasileiros. Grupos dedicados à educação podem ser encontrados por lá. É imbatível quando se trata de encontrar, rapidamente, links e redes interessantes de ensino.

2ª YouTube
Um dos sites mais antigos de hospedagem de vídeo (e o mais popular). Desde que foi comprado pelo Google em 2006, cresce anualmente. De fato, é uma revolução. É possível encontrar documentários, palestras, imagens e vídeos antigos de quase tudo. Uma fonte de pesquisa inesgotável. Ano passado, o YouTube liberou o limite de tempo para publicação de vídeos, o que facilitou ainda mais a postagem de bons conteúdos.

3ª Google Docs
Ferramenta do Google que simula um escritório virtual. Quase tudo o que você encontra em um Microsoft Office ou em um programa de computador livre está por lá. Editores de texto, planilhas, programas que fazem slideshow etc. A maior das vantagens: todos os arquivos podem ficar disponíveis na rede. Ou seja, é possível acessá-los de qualquer computador. Ideal para trabalhos feitos a várias mãos ou com ambições colaborativas.

4ª Delicious
Repositório de links e páginas interessantes na internet. Digite um assunto e encontre um portal de qualidade. Siga alguém que dê as melhores dicas. O Delicious da CH On-line é bastante completo e conta com diversos links confiáveis, inclusive com páginas sobre educação. Recentemente circulou um boato de que ele iria acabar, mas, felizmente, parece que é só boato. Há, no entanto, uma possibilidade de ele ser vendido.

5ª Slideshare
Professores são os reis do PowerPoint. Quantas vezes um aluno pede ao educador o arquivo 'daquela aula interessante'? Pois bem, no Slideshare é possível publicar, para todo mundo ver, aulas, arquivos e outros documentos. Quando pedirem 'o seu PowerPoint', basta dar o endereço na internet.

6ª Skype
Permite conversar, com mais qualidade do que outros programas, pelo computador. Também é possível falar via webcam. Nos últimos anos, o Skype vem oferecendo possibilidades cada vez mais baratas de se comunicar com telefones fixos. E já há um telefone móvel do próprio Skype. Não só é possível se comunicar com educadores de todo o mundo como também usá-lo para aulas à distância.

7ª Google Reader
Outra ferramenta que ajuda, e muito, a se informar. O RSS é popular no Brasil, mas ainda pode crescer bastante. Como funciona: você assina as informações que deseja receber de um site ou blogue. Todos os feeds assinados entram em uma mesma página, muito similar à caixa de correio eletrônico. A vantagem do Google Reader é ter, assim como as outras ferramentas do Google, tornado toda essa movimentação online ou seja, acessível de qualquer computador. Além disso, a diagramação da página do programa é bastante confortável em comparação a outros leitores de RSS.

8ª Wordpress
Ferramenta que possibilita criar blogues. Há várias, mas o Wordpress é o preferido de vários educadores. Por quê? Porque é uma plataforma aberta, com aplicativos desenvolvidos ao redor de todo o mundo e disponibilizados gratuitamente. É a plataforma que oferece mais ferramentas novas aos usuários. E, bom, não há dúvida sobre o poder dos blogues na educação.

9ª Facebook
Assim como o Twitter e os blogues, o Facebook deixou de ser visto pelos educadores como lugar de vã distração. No ambiente virtual, há milhares de comunidades voltadas para a educação. Além, é claro, de usuários dedicados ao tema. A plataforma é tão popular que tem filme e livros que contam os meandros de sua criação. Hoje, o número de cadastrados no Facebook é astronômico: 500 milhões.

10ª Moodle
Talvez, a ferramenta menos conhecida na lista das "10 mais" dos professores. O Moodle, a bem da verdade, não foi muito difundido no Brasil. Mas já faz bastante sucesso no exterior. Criado no começo dos anos 2000, é uma espécie de plataforma voltada exclusivamente à educação. O programa de computador que o Moodle disponibiliza é gratuito e permite que professores e alunos criem a sua própria rede social, seja aos moldes do Twitter ou do Facebook - a escolha fica a critério do educador.

Continue navegando pela lista das 100 maiores ferramentas virtuais do ano.

Fonte: Ciência Hoje On-line

06/01/2011

Ciências no Brasil

via Jorge Werthein

"Num curto período, o Brasil organizou um sistema que contribui significativamente para a evolução do conhecimento científico. Chegou a hora de a ciência contribuir de maneira expressiva para a evolução do Brasil".

Marcos Antonio Raupp é presidente da SBPC e diretor geral do Parque Tecnológico de São José dos Campos. Foi diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Laboratório Nacional de Computação Científica. Artigo publicado na "Carta Capital":
Diferentemente de seus antecessores, o próximo governo federal poderá contar com um recurso de excepcionais qualidades para auxiliar o Brasil a dinamizar e robustecer sua economia. Refiro-me à possibilidade, absolutamente real, de a ciência vir a se tornar protagonista do desenvolvimento sustentável brasileiro.

Não se trata de proposta inovadora, mas sim de um fato que a sociedade brasileira deve estar ciente, especialmente os governantes que tomarão posse em janeiro próximo, com destaque para a presidente da República.

A ciência, ao lado da educação de qualidade, desde sempre foi um dos protagonistas do crescimento econômico dos países do Primeiro Mundo, experiência que vem se replicando com êxito também naqueles cujo curso do desenvolvimento é mais acelerado do que o nosso, como Coreia do Sul, Cingapura, China e Finlândia. A exemplo do que ocorre nesses países, já é possível que também no Brasil a política e a economia dialoguem mais com a ciência.

Essa possibilidade não ocorreu antes, em nosso país, por razões compreensíveis. A ciência é uma atividade recente no Brasil: começou a ser feita de uma maneira organizada, porém timidamente, há pouco mais de 70 anos. Impulso significativo ocorreu apenas nos anos 1950, com a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e na década de 1960, com a instituição da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). São Paulo inaugurou seu subsistema de amparo à pesquisa em 1962, mas foi seguido pelos demais estados somente duas décadas depois, num processo que abrange hoje quase todas as unidades da federação.

A nossa pós-graduação, instrumento universal para a formação de pesquisadores, surgiu timidamente em meados da década de 1940 e ganhou impulso vigoroso vinte anos depois. Por sua vez, a atividade de pesquisa foi associada ao ensino superior - ou seja, como prática obrigatória nas universidades - em 1961.

O nosso sistema universitário também é de construção recente. Nos moldes atuais, surgiu na década de 1930 e teve sua expansão a partir da segunda metade do século passado. Hoje há universidades federais em todos os estados, sendo que muitos deles contam também com subsistemas próprios. No universo científico brasileiro apenas os institutos de pesquisa, mesmo que tenham surgido ainda no século 19, não tiveram ainda a atenção merecida.

Apesar de sua juventude e de percalços naturais em qualquer processo, o ponto fundamental é que o Brasil conta hoje com um amplo e dinâmico sistema de produção científica. Temos em atividade cerca de 230 mil pesquisadores, cujo trabalho - mais de 30 mil artigos por ano, publicados em revistas internacionais - representa 2,7% da produção científica mundial e coloca o Brasil em 13º lugar no ranking do setor. Para se ter uma idéia da expansão vivida pelo sistema, em 1990 nossos pesquisadores publicaram 3.539 artigos de reconhecimento internacional, o equivalente a 0,63% da produção mundial. Hoje o Brasil produz mais ciência do que a Rússia e a Holanda, países com maior tradição nessa atividade.

Outro parâmetro da evolução: em 2009 o Brasil titulou 11.368 doutores, 134% a mais do que dez anos antes (4.853 em 1999).

É esse o sistema que o Brasil construiu - e que agora deve dar sua contrapartida para a sociedade brasileira. Não apenas por uma questão ética ou dever moral, mas também porque o desenvolvimento econômico no mundo atual não pode prescindir da contribuição da ciência. O atendimento aos pré-requisitos da nova economia - competitividade e sustentabilidade - só é possível com o uso intensivo do conhecimento científico.

Assim, no campo da ciência e tecnologia o novo governo recebe um benefício e um desafio. O benefício é herdar de seus antecessores um sistema de produção cientifica maduro e dinâmico, porém com viés essencialmente acadêmico. O desafio é ampliar o espectro desse sistema, com a definição de modelos para a transferência do conhecimento da base científica para os setores industriais e de serviços, bem como para a produção de ciência e tecnologia com viés empresarial, visando à geração de riqueza.

De antemão, é preciso ficar claro que transferir os saberes da ciência para o setor produtivo empresarial não é função ou competência da universidade. O papel fundamental da instituição universitária é a formação de recursos humanos para a sociedade, além da realização de pesquisa científica que contribua para a evolução do conhecimento em suas mais diferentes áreas. Em resumo, a universidade tem de estar sempre pronta para interagir com os grandes desafios do pensamento e promover a geração de novos conhecimentos.

Precisamos, portanto, de mecanismos específicos para a intermediação do conhecimento científico com o sistema produtivo. O aspecto positivo para superar esse desafio é que temos no Brasil algumas experiências extremamente exitosas a serem consideradas, nos campos do agronegócio, do petróleo e da aeronáutica.

Nossa agropecuária é responsável por quase um quarto do PIB brasileiro e em 2009 respondeu por 42% de nossas exportações. As pesquisas realizadas pela Embrapa estão literalmente na raiz dessa riqueza.

Na evolução da indústria aeronáutica desponta a Embraer, mas há por trás uma cadeia composta por centenas de pequenas e médias empresas, muitas delas com o desafio de inovar permanentemente para poderem atender um setor dotado de altíssima intensidade tecnológica. É sabido que a Embraer teve como berços o Centro Técnico Aeroespacial e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica.
No petróleo, criamos a Petrobras, mas o que a fez uma vencedora constante de desafios cada vez maiores foi o seu Centro de Pesquisas, o Cenpes, e uma rede universitária associada. Foi por meio do conhecimento gerado nessa estrutura que a Petrobras se tornou a empresa líder mundial na exploração de petróleo em águas profundas, fazendo gerar também uma infinidade de empresas de pequeno e médio porte baseadas no desenvolvimento tecnológico e na inovação.
Esses exemplos mostram que tivemos grande êxito quando fizemos esforços para a integração da base científica e tecnológica com setores econômicos. E um dos fatores determinantes para esse êxito foi a utilização de mecanismos adequados, quais sejam, centros de pesquisa criados com finalidades específicas e desafios pré-definidos.

Para cumprir sua missão, esses centros de pesquisa - sem a obrigação de ensinar, como ocorre com as universidades - dispõem das condições ideais necessárias: podem se utilizar do conhecimento já existente, adaptando-o para uma finalidade específica; podem gerar novos conhecimentos, para atender demandas pré-definidas; estarão aptos a desenvolver novas tecnologias; isentos de obrigações acadêmicas, têm flexibilidade para se adaptar ao ambiente produtivo empresarial.

Temos certo, portanto, é que os centros federais de pesquisa já existentes (a maioria com a denominação de institutos de pesquisa) sejam fortalecidos e tenham seu foco de estudo, seus objetivos e seu financiamento redefinidos em conformidade com as dimensões do campo em que vão atuar e dos desafios que terão de enfrentar.

Da mesma forma, será fundamental a criação de novos institutos de pesquisa, igualmente dotados das condições para a realização de grandes projetos mobilizadores, capazes de criar novas e vigorosas vertentes na economia nacional. Fármacos e medicamentos, energia e microeletrônica são alguns dos setores nos quais o Brasil poderia empenhar grandes esforços visando à criação de parques industriais fundamentados na utilização de tecnologias inovadoras geradas aqui mesmo.

O desenvolvimento de tecnologias que possibilite a exploração sustentável de nossos recursos naturais, a exemplo da Amazônia e da plataforma continental marítima, também caberia como desafio para centros de pesquisa dedicados a grandes temas.

Por esse modelo, o agente público e o privado atuariam como parceiros; o público não será cliente do privado, nem inversamente. Ambos trabalhariam em conjunto. Vale salientar também que esses centros não substituiriam a missão específica de cada empresa em realizar suas atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Eles atuarão na fase pré-competitiva, gerando conhecimento científico e tecnológico que servirá de base às atividades de P&D das empresas, para que elas possam apresentar ao mercado produtos, serviços e processos inovadores.
Uma vez que estarão comprometidos com o desenvolvimento do país, ou seja, com o nosso futuro, esses centros poderão desempenhar papel estratégico na economia brasileira, antevendo tendências tecnológicas e ajudando a colocar o Brasil no caminho do futuro.

Com esse conjunto de atributos e objetivos, esses centros de pesquisa serão um vigoroso instrumento de política pública para a ciência e tecnologia; serão uma forma de participação do governo no esforço de tornar o Brasil um país com alto desenvolvimento tecnológico; e serão também um indutor da inovação tecnológica nas empresas.

Num curto período, o Brasil organizou um sistema que contribui significativamente para a evolução do conhecimento científico. Chegou a hora de a ciência contribuir de maneira expressiva para a evolução do Brasil.(Carta Capital, 17/12)

Jorge Werthein: Ciencias no Brasil

Jorge Werthein: Ciencias no Brasil: "Ponto de maturidade 'Num curt..."

Um novo ano e uma nova educação

via Jorge Werthein

ISAAC ROITMAN

Professor aposentado da Universidade de Brasília e coordenador do Grupo de Trabalho de Educação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)Um novo ano e um novo governo inspiram novos sonhos e expectativas. O maior dos sonhos, o de o Brasil se tornar um país justo e soberano. Podemos até ter uma conjuntura econômica favorável, construída nos últimos anos. No entanto, não teremos o país que almejamos se não tivermos educação de qualidade para todos os jovens, alicerce de uma democracia. Avaliações nacionais e internacionais revelam uma lamentável realidade, principalmente na educação básica.
Em julho, ainda candidata, Dilma Roussef participou de debate na reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Após discursar, foi feita a ela a seguinte pergunta: Se eleita, fará o possível e o impossível para que até 2014 o piso salarial do professor de ensino básico seja de R$ 4 mil? Ela respondeu: Não posso fazer promessas com números, pois, se não conseguir cumprir, estarei fazendo falsas promessas.
No entanto, tentarei fazer o possível e o impossível para termos o piso proposto, que acho adequado.
Faz parte da nossa tradição candidatos a qualquer cargo eletivo prometerem lutar pela melhoria da educação. No entanto, na grande maioria das vezes, a promessa é esquecida, aparentemente por uma súbita amnésia. Mas uma esperança se esboça no horizonte. Em recente pronunciamento, o ministro da Educação do governo Dilma Rousseff, Fernando Hadadd, afirmou que o salário do professor será prioridade no governo Dilma. O Plano Nacional de Educação prevê uma mesa de negociação permanente sobre o piso salarial (atualmente de R$ 1.025). A intenção soa como música para as pessoas que acreditam que a valorização do professor é pré-requisito para a conquista de uma educação de qualidade.
O piso de R$ 4 mil sugerido para 2014 deve ter ajustes na próxima década para que no ano 2022 os salários dos professores do ensino básico estejam na faixa superior dos servidores públicos.
Paralelamente à valorização, a formação dos professores deve ser revista e adequada aos avanços tecnológicos, ao mundo moderno e aos jovens de hoje. Uma nova carreira docente deve ser estruturada, baseada no desempenho e no mérito. Em novembro de 2009 foi lançado na Universidade de Brasília o Movimento SBPC: Pacto pela educação, que congregam, além do segmento acadêmico, entidades estudantis, sindicalistas, empresariais e organizações sociais. Esse movimento propõe ações em outras dimensões importantes, para que os jovens brasileiros possam ter educação digna, que lhes permitam compreender melhor o mundo em que vivem, e sejam preparados para exercer uma profissão digna, que respeite o anseio individual.Entre essas dimensões estão elencadas uma atualização de conteúdo nos diferentes níveis da educação: primeira infância e ensino infantil, fundamental, médio, profissional e superior.
Os métodos pedagógicos devem ser revistos com a utilização das tecnologias contemporâneas de informação e comunicação. É também de fundamental importância a arquitetura escolar, proporcionando ambiente adequado para o processo cognitivo. Em adição, uma gestão escolar eficiente e profissional deve ser perseguida. A integração da escola com a sociedade, principalmente com os pais, é também fundamental.
Esse é o desafio da presidente Dilma Rousseff e do ministro Fernando Hadadd. Confiamos nos dois, lembrando os pensamentos de Carlos Drummond de Andrade: Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente.