Talvez você já tenha ouvido esta pergunta em algum lugar. E por que voltar a esse assunto? Muitos motivos poderiam ser mencionados: a população apoia projetos que compreende melhor, o que invariavelmente resultará no suporte financeiro do poder público, das instituições fomentadores de pesquisa ou das empresas privadas.
Divulgar ciência ajuda a melhorar a educação. A divulgação atrai jovens ou entusiastas para o convívio no meio científico e ajuda a desmistificar conceitos equivocados e mitos sobre o papel do cientista. Divulgar ciência é o único meio de conter uma onda mística da qual surgem cada dia mais os que abusam da boa fé de nosso povo.
Mas então por que, especialmente no Brasil, não se costuma fazer divulgação científica? Será pura “inércia” de uma falta de tradição secular? Insensatez? um tiro no próprio pé – já que quase todo apoio à ciência vem dos cofres públicos? Provavelmente ocorre um pouco de medo e despreparo. Muitos acham que “saber” não implica em “saber transmitir”.
Realmente é necessário explicar com clareza e honestidade o objetivo de uma pesquisa. E não se pode falar ao público em geral do mesmo modo como conversamos com nossos pares.
Não é um trabalho simples, mas todos envolvidos com ciência deveriam fazê-lo. Um trabalho bem apresentado ao público pode render reconhecimento e fundos para continuar as pesquisas.
A população deve ter conhecimento da importância e necessidade dessa ou daquela pesquisa.
Ciclo virtuosoESTE É UM CICLO QUE FACILITA a chegada de novos investimentos e o conseqüente desenvolvimento científico e tecnológico. Durante a crise no abastecimento de energia elétrica, por exemplo, os institutos que trabalham com fontes alternativas de energia tiveram uma ótima oportunidade de mostrar à imprensa e ao grande público os resultados parciais de suas pesquisas, e assim “batalhar abertamente” por mais incentivos.
Quando o cientista divulga o seu trabalho presta contas a sociedade daquilo em que ela investiu. Isso cria uma cumplicidade de que tudo o que é investido acaba retornando em benefícios. Isso também incentiva os professores do ensino médio a se manterem atualizados quanto aos avanços científicos.
Se a divulgação científica tornar-se um hábito, até mesmo os atuais critérios na concessão de financiamento para as pesquisas poderiam mudar, à exemplo do que já ocorre em outros países.
Um pesquisador tem de explorar um modo de divulgar o seu trabalho de maneira clara e precisa. É igualmente bem-vindo que ele compartilhe o seu conhecimento em ciência básica com jovens em idade escolar, assim como um atleta divide o seu tempo ensinando sua prática em iniciativas voluntárias.
Em seus estudos sobre a vida, Leonardo Da Vinci desenvolveu uma descrição detalhada da anatomia humana; porém, suas anotações eram obscuras e ele sabia que desenhos seriam melhor compreendidos – até por ele próprio. Assim, ele fez uma descrição minuciosa através de ilustrações que até hoje ainda são vistas em livros de anatomia.
Senso críticoOUTRO PAPEL IMPORTANTE DO DIVULGADOR é a correção de equívocos, os conceitos errôneos e a má divulgação científica. Em nosso meio há pessoas que se aproveitam do vazio deixado pela ciência na mídia e se autoproclamam especialistas, quando muitas vezes não têm sequer uma iniciação científica.
Pelo menos uma vez ou outra, o pesquisador deve assumir sua responsabilidade como educador e combater tais deslizes, falando habilmente sobre ciência e minimizando a propagação de erros.
O mais importante é formar uma sociedade crítica, com cabeças pensantes que tenham as ferramentas necessárias para atuar no beneficio de todos. Inspirar a juventude é um ótimo começo para galgarmos no caminho da maior entre todas as aventuras: aprender e praticar ciência.
FLORA I. MATTOS-COSTA**Flora Inês Mattos Costa é doutora em ciências pela Universidade de São Paulo (USP) com pós-doutorado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Colabora com o Zênite cuidando para que nossos artigos atendam as exigências básicas de um bom trabalho de divulgação científica: clareza, precisão e correção.
http://www.zenite.nu/
FONTE: Anel de Blogs Científicos / O Estudo da Blogosfera Cientifica
02/12/2010
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